12.6.10

O lado de lá

Num grupo de pessoas, avistado através da janela do autocarro, estava um rapaz isolado no fim do comboio humano. Olhava para o seu amor roubado. Os seus olhos e a sua expressão mostravam dor e ciúme ao olhar para a rapariga loira agarrada ao namorado. E assim estava ele, deprimido e deslocado porque um amor rejeitado na adolescência é e sempre será o fim do mundo.
Vi também, noutro lugar, um homem a não ceder passagem a uma mulher que retribuiu com um olhar de desprezo. Percebi o seu desejo por algum cavalheirismo.
No banco de jardim, o velhote esmigalhava pedaços de pão para oferecer aos pombos que nada temiam. Com as suas mãos marcadas pelo tempo, desfazia calmamente a carcaça seca. Não havia pressa, eram todos amigos. É um dos seus momentinhos do dia.
E aqueles dois através da imensa multidão, ao som do concerto que de vez em quando ignoravam, trocavam olhares proibidos e envergonhados.
Percebi também como aquelas duas raparigas invejavam um outro alguém pela maneira como olhavam. Eram olhares críticos e risinhos cruéis que só podiam significar inveja com a qual não sabem bem como lidar.

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