10.6.14

Uma novidade que é desconhecida entrou no seu mundo tranquilo sem pedir autorização. Trouxe com ela muitas perguntas sem respostas e que com o passar do tempo há uma idealização, provavelmente falsa, demasiado positiva. É estranho, singular, esquesito, desconhecido e não responde. Vale a pena ou não? Tudo menos esta incerteza.

25.1.14

Gosto e te ver ser humano.

15.12.13

Um aperto no estômago e uma constante negação no pensamento. Mesmo com o poder da previsão, correr na direcção contrária deixou de ser uma solução eficaz. Já sabe a dor.

10.7.13

Olá branca de neve, minha querida e frágil branca de neve.
Ainda bem que os monstros já não são tão assustadores e que os mandaste embora do teu armário de correr. Estás é a virar-te para outro lado errado desse prisma octogonal e por enquanto não te deves encostar a nenhuma das paredes porque elas acabam sempre por cair. Mas ainda bem que és capaz de te surpreender, ainda bem.
(E não te encostes a essa parede.)

29.6.13

espero-que-essa-força-se-mantenha

8.2.13

O pensamento "mas onde raio é que fui buscar isto?" rasga por segundos a minha mente sempre que releio o que uma vez escrevi.

5.9.12

Olá branca de neve, minha querida e frágil branca de neve.
Não é por arrumares os monstros no armário que eles vão desaparecer e se a maçã está envenenada já a devias ter mandado fora. Não consegues é encarar essa mudança que te parece proibida nem os riscos que podes correr. Eles continuam lá, no mesmo sítio que os deixaste, porque talvez os monstros sejam teus amigos e a maçã faça bem à saúde.

16.8.12

Olá branca de neve, minha querida e frágil branca de neve.
Talvez o teu valor seja medido por quem menos esperas.

30.7.12

Hoje o céu está silencioso

Olhou para baixo e a visão alcançou os ténis gastos com a sola outrora branca. Bateu ao de leve com a ponta dos pés nas pequenas poças, estes últimos dias tinham sido muito chuvosos. Já estava farto de estar sentado na paragem de autocarro à espera da boleia que parecia não vir. Na rua deserta a estrada brilhava e o cheiro do alcatrão molhado reinava no ar. O relógio marcava apenas 17h27. O rapaz das solas gastas, depois de muito teste à paciência, decidiu pôr fim à espera e dar ainda mais uso aos ténis. As ruas continuavam vazias, o ambiente permanecia calmo. Há uma silhueta que lhe é familiar avistada em contra luz no beco estreito do outro lado da rua. Apressa-se a chegar àquela presença que tanto lhe captou a atenção. Por momentos pensou que a palavra saudade ia perder alguns dos arames farpados que conquistou mas era apenas um beco solitário. Conformando-se com o falso alarme que tinha soado, dobrou a esquina e retomou o seu curso. Sentia um aperto no peito, tudo nele estava vazio combinando assim com as ruas tristes e chorosas. O passeio estava sujo, observava enquanto caminhava. Algo o impediu de continuar no seu ritmo de pôr um pé em frente ao outro quase sempre no mesmo tempo. Uma zona da calçada estava espetada para fora, prendeu a sola do pé direito que com a força para continuar fez um buraco na zona do calcanhar. Passou à porta do café das janelas vermelhas, que lhe era tão familiar e onde nunca parava para marcar a sua presença mas, parou. Por alguma razão desta vez parou e olhou através do vidro limpo mas riscado com as marcas dos anos já passados. A silhueta do arame farpado estava sentada na mesa da ponta acompanhada consigo própria. O rapaz das solas gastas parou e os olhos cor de avelã da silhueta do arame farpado miraram-no e assim permaneceram com as pupilas alinhadas. Ele podia finalmente acabar com o aperto de a ter estragado, com o aperto de a ter feito fria. Ia pedir-lhe desculpas pelas palavras não cuidadas quando ignorava ao mundo aquela presença dos olhos cor de avelã. Mostrar o orgulho que sempre teve apesar de parecer adormecido. Dizer o nome dela sem pressões por ser a coisa mais natural de quando alguém se combina. Mostrar que sabia o aperto que lhe causou e que ela guardou para si, não por não ter quem o guardasse mas por querer resguardar a imagem que dava do rapaz das solas gastas. Apenas temia que aqueles de quem ela mais gosta deixassem de lhe gostar. Não há melhor prova de amor que esta troca de gostares. E ali estava ele, a olhar-lhe nos olhos com a vontade de finalmente cortar o arame farpado que à muito marcava dolorosamente o corpo e a mente. Ouve-se o som do autocarro. O rapaz das solas gastas está sentado na paragem, o relógio marcava apenas 17h27 e o cheiro do alcatrão molhado reinava no ar. Olha para a sola do pé direito e que, apesar de gasta, não tem nenhum buraco no calcanhar.

2.7.12

É como se tivesses um peso em cima do peito ou um punho cerrado com o coração espremido.

18.6.12

Está uma fruta podre no cesto de palha envernizada. Era a fruta mais linda e apetitosa daquela palete de cores harmoniosas. Custa-te a acreditar mas está podre. Apodreceu para ver se sai do cesto que vive na tua casa, na tua companhia. Apodreceu e vai apodrecer as frutas saudáveis que estão à sua volta. Custa-te que esteja podre, por fazer parte da tua vista diária, por estares habituada à sua beleza. Querias que ela estivesse sempre ali, perfeita, que nada mudasse. Tudo tem a sua dose de efemeridade, estás sozinha no mundo.

3.3.12

anatomia

Quão bem se conhece o corpo humano? Nas aulas de anatomia artística bem longe se está da sensação da presença de um corpo morto ao dispor para ser cortado e explorado. Pois bem, não é por os alunos de belas artes não estarem na área de ciências que perdem esta experiência. Apesar da disciplina ser anatomia com o complemento da palavra "artística" foi possível, como é todos os anos, espreitar as aulas de dissecações dos futuros médicos. Não é algo que seja possível de se prever ou mentalizar, é uma experiência assustadora, chocante, que dá a volta ao estômago mas sobretudo incrível. Não há palavras para explicar o que é sentir a presença de um cadáver, por mais filmes ou programas de operações que se vejam através de um ecrã. O mais chocante foi o choque inesperado. E foi apenas a primeira parte, a mais superficial no verdadeiro sentido da palavra. Agora o choque inicial ainda está presente, assim como o cheiro que contribui muito para o ambiente pesado e aterrorizador. Mas as aulas ainda agora começaram e há que arranjar coragem para voltar porque a vontade já cá está à espera.

27.2.12

Olá branca de neve, minha querida e frágil branca de neve.
Já alguém te disse que lidas da maneira errada com as memórias?

26.2.12

Ando cada vez mais a escrever menos, ou melhor, cada vez mais a partilhar menos. Para quem gosta é egoísmo, para quem não gosta é indiferente.

17.1.12

Olá branca de neve, minha querida e frágil branca de neve.
Aquele som desarmónico que vem lá do fundo é para ser ignorado. A figura estranha e corrompida pode tentar, mas nunca vai entrar nesse lugar que é teu, onde estás tão bem. Veio por um atalho, depois de te teres esfolado a percorrer o caminho até lá. Não percebe o quão ignorada e indesejada é nesse espaço partilhado por quem merece.

31.12.11

2012

Até para o ano.

15.11.11

Olá branca de neve, minha querida e frágil branca de neve.
Fiquei outra vez muito tempo sem falar contigo, pode ser que seja desta que estejas de volta. Não te esqueças de fugires do que deves e de calares o que o universo não está preparado para ouvir.

23.9.11

bairro da artes

Ontem foi uma noite perfeita para entusiastas da arte contemporânea. Foram quatorze as galerias de arte que estiveram abertas em Lisboa para quem quisesse visitar, um bom programa para a noite de quinta feira. A galeria mais curiosa chamava-se Farewell de Yann Gibert.
Conheci o trabalho artístico de Yann Gibert no Hospital Júlio de Matos e senti que todas as suas chegadas foram partidas ao mesmo tempo. Menos esta última. Farewell, a próxima performance de Yann Gibert (nascido em Lyon e exilado, por opção própria, em Lisboa desde 2005) a ter lugar na Who Galeria, em Lisboa, contará uma última história.
No espaço da galeria estava recriado o ambiente doméstico que fora outrora de Yann Gibert. Todos os objectos tinham de ter obrigatoriamente uma história da sua vida.
Neste espaço deslocado irá acontecer um momento transportado: a reencenação da minha festa de despedida onde serão convidados os meus amigos e integrados visitantes inesperados. Esta festa ficcional terá, como qualquer festa, música, bebida e comida, mas com a particularidade de ser uma take away party, onde as pessoas serão convidadas a levar para casa os meus objectos pessoais, disse Yann Gibert antes da sua Farewell.
Eu, como visitante inesperada, fiz parte da performance levando um dos seus DVD's que estava alinhado com os seus livros e CD's por cima das roupas e do calçado.

3.8.11

Escrevo para me lembrar e para registar, porque as palavras feitas e guardadas são muitas vezes mais fiáveis que as memórias que nem sempre ficam.

25.7.11

É o que eu digo; loucura, completa loucura.

23.7.11

Esta noite houve um sonho. Há sonhos todas as noites, sempre peculiares e com um cheirinho de surreal. E hoje houve um sonho, desses diferentes e cansativos. Houve um hospital abandonado que nos protegia de seres desconhecidos que vagueavam nas ruas e houve telefones que eram usados para pedir ajuda a quem quer que estivesse na ponta oposta do edifício. Houve pessoas raptadas e mulheres que talvez possam ser definidas como bruxas e com um lado demoníaco. Houve encantamentos feitos pelas mulheres; senti como era perder controlo do corpo por ter olhado nos seus olhos sem alma que fizeram com que a arma que eu tinha na mão fosse usada contra mim própria. Houve controlo mental, consegui expulsá-las da minha cabeça. Houve aparências; algo que de longe parecia um felino grande e que de perto se veio a revelar um urso selvagem e feroz. Houve coragem em manter o corpo quase imóvel, como método de sobrevivência, enquanto sentia a respiração do urso na pele. Houve um despertar sufocante e complicado. Aqui, neste mundo da noite, ou se sofre de insónias ou de loucura.

16.7.11

Monstro

Ouviam-se passos no parque de estacionamento até agora silencioso como seria de esperar às três e meia da manhã. Era claro que se tratava de uma mulher pelo barulho dos saltos altos que se aproximava do carro preto no meio de tantos outros iguais. A sua mão alcançou a mala, aparentemente pequena, que parecia esconder as chaves do carro sempre que necessárias. Finalmente sentiu-as na ponta dos dedos e agarrou-as de imediato antes que, por alguma razão, decidissem desaparecer. Um vulto fora avistado na linha de carros paralela pela visão periférica da mulher dos saltos altos. A cabeça voltou-se de imediato para a tal linha paralela. Talvez o impacto daquele movimento não tivesse sido tão forte se não fosse o silêncio e a solidão que se vivia naquele parque de estacionamento um quanto ou tanto sombrio. A mulher dos saltos altos optou por ignorar tais pensamentos negros que vieram ao de cima na sua imaginação. De imediato tentou, sem sucesso, abrir a porta do carro já com as chaves fugitivas. Já não estava relaxada como antes. Foi numa questão de minutos que o seu humor mudou por completo e se viu preocupada com algo completamente novo e desconhecido. Petrificada, depois de muitas tentativas em abrir a porta do carro preto, voltou a sentir aquela presença que incomodava, que fazia o coração doer de tão forte que batia. Avistou outro vulto, agora tinha passado em todo o seu redor. Sentiu a sua face quente, corara de terror, o seu coração parecia que ia rasgar o peito de tanta dor que os batimentos causavam. As chaves do carro caíram-lhe das mãos pelo suor que tinha nascido, a mulher dos saltos altos tinha medo de se mexer um milímetro que fosse. Parou de respirar, arregalou os olhos, apurou os sentidos e tentou ouvir alguma coisa. Avistou uma presença incomum a espreitar por detrás do carro vermelho da ponta. Tinha uma respiração muito pesada. A mulher dos saltos altos apanhou de imediato as chaves do chão e tentou mais uma vez abrir o carro. Não havia muito mais que pudesse fazer. O carro não abria. Olhou pelo ombro novamente para a presença que a incomodava. Tinha uns olhos brilhantes que penetravam o olhar da mulher. Arrepiou-se. Os olhos, juntamente com a presença incomum e a respiração pesada, desapareceram. A mulher dos saltos altos olhou para todos os lados e, sem poder sequer reagir, sentiu algo a ir com toda a velocidade na sua direcção. Virou-se rapidamente e cegou. Sentiu o vento de algo a passar através dela. Estava aterrorizada, começara a gritar e a apalpar tudo o que conseguia. Sentiu a respiração pesada na pele e parou. Sentia a presença anormal e recuou. Estava encurralada por dois carros e uma parede. Não havia muito mais que fazer. Esticou a mão, queria sentir o que estava ali. Era algo irreconhecível, não identificava a textura nem a forma. Recolheu a mão e gritou de pavor. A mulher dos saltos altos encolheu-se e deitou-se no chão como uma criança desprotegida. Chorava e gritava, não conseguia controlar as reacções que o seu corpo estava a ter face àquela angustia, àquele medo todo. A visão voltou. Abriu os olhos e levantou-se rapidamente. Já não estava ali nada. As quatro portas do carro estavam todas abertas. Perplexa, ainda demorou uns minutos a reagir fosse de que maneira fosse. Fechou as portas todas e levou a chave à ignição. Acelerou como nunca antes, e escapou finalmente para o mundo de outros que, assim como ela, estavam atrás de um volante. Ainda assustada e confusa, a mulher dos saltos altos carregava no acelerador como podia e fugia sem saber do quê. Sem se preocupar com nada, entrou num cruzamentos sem olhar para o semáforo. Um camião embate na mulher dos saltos altos. O outro condutor ainda tentou evitar a colisão mas fora impossível. Ferida, vai processando o sucedido. Está assustada mas o mais assustador continua a ser o que não se pode ver.

22.6.11

as terças das curtas


Sabe bem ir até ao Bairro da Bica e ver curtas metragens sem pagar por isso, e é todas as terças.

29.5.11

A mão suada e nervosa que tremelicava sem parar foi agarrada por outrem na esperança de oferecer alguma calmaria. Suavidade. Sentira-se finalmente em paz e numa zona de conforto sem demónios nem perseguições. Brandura. Palavras haviam sido pronunciadas num tom de voz sereno e quase sussurrado. Melodia. As mãos que fortemente se agarravam desprenderam-se para subirem um grau de reconforto sendo ajudadas pelos braços que iriam abraçar os corpos. Delicadeza. Ouve-se silêncio e não existe desconforto nem perturbações reflectidas em respirações alteradas. Amor.

9.5.11

Olá branca de neve, minha querida e frágil branca de neve.
Corre, corre o máximo que puderes, até os teus pulmões explodirem, até a tua tensão começar a baixar, mas corre, corre exactamente na direcção contrária.

7.5.11

Soube tão bem entrar na dimensão do Yann Tiersen.

3.5.11

E até consigo ver através de ti.

5.4.11

não sei o que lhe chamar

Video art, curta metragem, video experimental, arte conceptual... O que interessa é que já está filmado e editado.

21.3.11

Infecto

Senti o tempo que passara ao olhar para o teu rosto. Estavas podre, a ser corroído por dentro. Nada fiz para te carregar ao longo dessa tua vida efémera que não soubeste valorizar. Vi e senti as palpitações, já fracas, que tentavam sobreviver no teu peito. Sentias dor. Sofrias nesta tua estação terminal. Os teus lábios pronunciavam as últimas palavras de amor enquanto o rosado característico desaparecia. Atingi a tua pele, ainda com um fôlego de calor, com a minha mão tão fria como viria a estar o teu corpo. Esperava mais de ti e dessa tua garganta que prometera o incrível. Só me queria libertar, viver, brotar, criar neste meu jeito desajeitado longe de tudo o que ensinaste ser tóxico e venenoso. Eras fétido, estragado, corrompido. Adeus, vemos-nos no subsolo.

15.3.11

Olá branca de neve, minha querida e frágil branca de neve.
Há muito tempo que não falava contigo e nunca é bom sinal quando apareço. Acho que andas de novo a esconder os monstros debaixo do tapete.