21.3.11

Infecto

Senti o tempo que passara ao olhar para o teu rosto. Estavas podre, a ser corroído por dentro. Nada fiz para te carregar ao longo dessa tua vida efémera que não soubeste valorizar. Vi e senti as palpitações, já fracas, que tentavam sobreviver no teu peito. Sentias dor. Sofrias nesta tua estação terminal. Os teus lábios pronunciavam as últimas palavras de amor enquanto o rosado característico desaparecia. Atingi a tua pele, ainda com um fôlego de calor, com a minha mão tão fria como viria a estar o teu corpo. Esperava mais de ti e dessa tua garganta que prometera o incrível. Só me queria libertar, viver, brotar, criar neste meu jeito desajeitado longe de tudo o que ensinaste ser tóxico e venenoso. Eras fétido, estragado, corrompido. Adeus, vemos-nos no subsolo.

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