5.8.10

Prisão

Fitava as grades sujas e ferrugentas enquanto as lágrimas lhe escorriam lentamente pela cara. "Uma menina tão bonita não devia estar a chorar", diz o homem, já de meia idade, tentando reconfortar a jovem rapariga. "O que acha que aquelas coisas nos vão fazer? Quero voltar para casa!", desesperada, busca alguma protecção naquele homem que de certa forma assume uma figura paternal. Na outra ponta da cela, está uma mulher, por volta dos trinta anos e um rapaz um pouco mais novo. Todos eles temem sem saber o quê. Ouvem-se passos e a rapariga jovem é a primeira a ficar sobressaltada. Uma mulher, aparentemente normal,  forte, cabelo loiro e mãos rudes aproxima-se das grades. Os prisioneiros afastam-se o máximo possível com as suas expressões de pânico. A mulher forte murmura qualquer coisa num dialecto desconhecido. Olha para eles, repete o murmúrio agora em forma de berro como se estivesse a ordenar alguma coisa. Ninguém percebe e estão todos estafados e com pavor daquele lugar. Agora aproxima-se um homem alto e moreno que com a sua falta de cabelo nota-se que a forma da sua cabeça é algo diferente. Podemos ver a sua testa gigante e um declive na nuca. Silencioso mas agressivo, abre a cela, violentamente agarra a rapariga jovem pelo braço e esta berra desesperada pela sua vida. O homem de meia idade tenta impedi-lo mas a mulher rude intervém, agarra-o pelo pescoço, com uma força anormal, os seus olhos reviram-se e deles liberta-se uma corrente eléctrica acabando assim por matar o homem de meia idade. A rapariga jovem é arrastada para a sala vermelha onde, em seu redor, só estão aqueles seres estranhos aparentemente iguais a ela. Tenta lutar, sem nenhum sucesso, e acaba por ser arrastada para uma caixa escura e solitária. Fica inconsciente acordando apenas passado algumas horas. Quase sem fôlego, sai o mais depressa da caixa escura e deita-se no chão a recuperar forças. O homem alto, que a arrastou até ali diz, agora numa linguagem que ela entende, "Está tudo bem? Tens de te acalmar que esta noite estavas muito agitada e incomodaste toda a gente". A rapariga fica com uma expressão interrogativa. Olha para trás e não vê a caixa, apenas uma cama simples, com um colchão fininho e uns lençóis brancos. O homem estica a mão para a ajudar a levantar. Ela, confusa, tem a boca ligeiramente aberta a tentar perceber o que se passa. É conduzida novamente pelo homem que lhe agarra no braço para um balcão no fundo do corredor. Lá dentro uma senhora com voz doce diz "Bom dia querida, tiveste uma noite agitada. Já sabes que por causa da tua brilhante imaginação o senhor doutor teve de duplicar a medicação. Mas tu és forte e tomas tudo não é querida? Aqui tens o teu copinho dos comprimidos de hoje".

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