14.5.10

O pintor sentou-se no seu posto com a cabeça inclinada a observar pela janela a mulher que chegava apressadamente a casa. Na tela em branco que esperava pacientemente à sua frente, o pintor, despido de preconceitos, desenhou um corpo, um lugar e uma situação. Contou uma história e escolheu à força a sua protagonista.
A sua mão paralisou, o seu olhar ficou vidrado e pousou o pincel. A sua expressão ficou tensa e a mão ganhou forças suficientes para derrubar violentamente o cavalete em simultâneo com um berro grave e rude.
O pintor já não tinha aquela aura pacífica do inicio da história. Estava zangado com o mundo e com as fantasias da sua cabeça. Era um homem solitário e penosamente infeliz. Sem a sua arte morria. A inspiração era o seu anti-depressivo, ou a sua depressão era o que o inspirava.
Cerrou fortemente a mão direita e apanhou o cavalete com a mão esquerda.

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