21.4.10

A rua

Vim agora de lá. Senti o peso da escuridão em cima, mas sabe bem e senti o sabor da noite. Consigo ver aquele homem misterioso que quase todos os dias fala com alguém na cabine telefónica que provavelmente já ninguém usa, não sei quem é, apenas vejo a sua silhueta que é desenhada em contra-luz. É impossível sair sem ouvir um único ladrar de um cão tanto dos que vagueiam perdidos pela estrada como os que têm família e me olham pelas grades das varandas. Vejo também o velho fumador à janela que manda a sua beata para a relva porque talvez nem pense que está errado, mata o vício e quem sofre a única consequência é ele (não). Nesta terra tranquila oiço por uns momentos muitas vozes a atropelarem-se e cada vez mais as sinto próximas. Um grupo de pessoas familiares, cumprimento algumas. O som afasta-se. Aqui toda a gente se cala, é tudo tão suave. Não temo por quem possa estar em cada esquina porque aqui sinto-me em casa. À noite toda a gente dorme.

1 comentário:

Say Cheese disse...

Que texto lindo $: