14.4.10

Depois daquela saída, daquelas bebidas e daquela noite a rapariga das madeixas loiras chega finalmente a casa. Acorda às 16h32 e a muito custo enfia-se no duche. A cabeça lateja penosamente e os olhos estão semi-abertos e vermelhos. A seguir ao banho, enrolada na toalha, faz uma visita ao frigorífico para matar aquela fome que tanto a tortura. Hoje era dia de ir ter com a amiga dos olhos claros por volta das 18h, mas aparentemente a vontade é quase nula e começa a passar-lhe pela cabeça cancelar o encontro. De barriga finalmente cheia escolhe uma roupa confortável, simples, só para andar por casa. É dia de não fazer nada e descansar no sofá. Ouve-se a campainha, a rapariga das madeixas loiras ainda pensa duas vezes antes de ir abrir a porta, talvez fingisse não estar ninguém em casa, mas não. A porta range e por detrás dela espreita o rosto do rapaz dos cabelos negros. Não se ouve palavra alguma, vêm-se sorrisos, trocam-se olhares. Estão estáticos, um a admirar o outro. Conheceram-se apenas a algumas semanas e ontem poucas conversas foram trocadas. A rapariga das madeixas loiras dá dois passos atrás sendo seguida por ele e encontram maneira de conseguir fechar a porta. Absolutamente nada precisa ser dito. Afinal, nenhuma conversa que não existiu fez falta porque ele estava ali, ela correspondia mesmo sem abrir a boca. Era tudo real, o rapaz dos cabelos negros tinha a confirmação que valeu a pena o risco de ir ali, não era imaginação de ninguém. O rapaz dos cabelos negros olha timidamente para baixo, agarra na mão da rapariga das madeixas loiras e puxa-a suavemente para si. As respirações misturam-se, os olhos fecham, os lábios tocam-se. Foram correspondidos, nada foi complicado. Apenas desconfiavam que apesar de nunca o terem dito eles eram algo. Foi comprovado agora, podem parar de sonhar acordados.

Sem comentários: